UMA ALMA ANGUSTIADA.
Alice in Chains. Jar of flies. Columbia, 1994.
No começo
de 1994, a banda Alice in Chains, oriunda de Seattle, berço do grunge, lançava Jar of flies, um EP acústico, com cordas
e gaitas, repleto de letras tristes e mórbidas. Isso logo após o grande sucesso
de seu disco anterior, Dirt.
Segundo
o vocalista, o performático Layne Staley, “[...] lançamos um disco que vendeu
muito bem, fizemos boas turnês e agora estamos no meio de uma calmaria”[1]. De fato, a banda passava
por um período de aparente tranquilidade, com seu vocalista livre do uso de
drogas, tentando exorcisar seus demônios através de letras recheadas de
angústia, solidão e desencanto. Em Nutshell,
a faixa de maior execução do disco, pode ser ouvido que “Se não posso ser eu
mesmo, eu me sentiria melhor se estivesse morto”, ou ainda “Ninguém com quem
chorar, nenhum lugar para chamar de lar”. Em Don’t follow, a amargura levada à enésima potência: “Esqueci minha
mulher, perdi meus amigos, as coisas que fiz e onde estive”, para depois
confessar “Vejo minha face envelhecendo, morrendo de medo sem razão”.
Quando
do lançamento de Jar of flies, a
crítica foi amistosa. “Após dois discos de trilha sonora para autodestrutivos
[...] o grupo está lançando [...] um trabalho que [...] incorpora levezas
acústicas”[2], mesmo chamando o disco de
“clima de angústia cocainômana”, em referência às preferências de Layne Staley.
A capa
do disco remete a um experimento científico que o guitarrista Jerry Cantrell
realizou na terceira série: "Eles o deram dois jarros cheios de moscas. Um
dos jarros eles superalimentaram, e o outro jarro eles subalimentaram. Aquele
que eles superalimentaram floresceu por um tempo, então todas as moscas
morreram pela superpopulação. Aquele que eles subalimentaram teve a maior parte
de suas moscas sobrevivendo o ano todo”[3].
Em Jar of flies está registrada a
performance mais dramática de Laney Staley, além de exibir a versatilidade dos
músicos da banda, mostrando o quanto o Alice in Chains ia além do rótulo grunge.
Por
mostrar a poesia contida em sua angústia, bem como o talento de seus músicos,
Jar of flies é um disco que você tem que ouvir antes de morrer.
Ouça o disco completo
em https://youtu.be/6zurnifn-Y0
[1] RONDEAU,
José Emílio. Calmaria em meio à tempestade. Bizz, n. 103, fev. 1994, p. 30.
[2] DIAS, Gabriela. Jar of flies. Bizz, n. 102, jan. 1994, p. 57.
[3]
PIMENTEL, Thiago. Alice in Chains: após o lançamento do aclamado
"Dirt". Whiplash.Net. 13
set. 2010. Disponível em
https://whiplash.net/materias/cds/114953-aliceinchains.html Acesso em 01 set. 2017.
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