Pular para o conteúdo principal

É UMA BRASA, MORA!


ROBERTO CARLOS. É proibido fumar. CBS, 1964.

Esqueça o Roberto Carlos cafona, que só usa azul e branco, interpretando seus sucessos radiofônicos bregas, exaltando a beleza da mulher pequena e dizendo “Esse cara sou eu”.

Na década de 1960, com a ascensão dos Beatles na Europa e Estados Unidos, surgiu no Brasil o estilo Iê Iê Iê (aportuguesamento de Yeah Yeah Yeah, presente na letra de She loves you, sucesso do quarteto de Liverpool).

O maior nome desse estilo musical no Brasil, mais tarde rebatizado de Jovem Guarda, foi justamente esse senhor septuagenário.

Roberto Carlos, fã incondicional de João Gilberto, tentou, em início de carreira, seguir os passos do mestre, lançando o LP Louco por você, em 1961, que se mostrou um desastre de vendas. Nesse disco, Roberto Carlos canta as dores do coração, assim como os astros e estrelas da década de 1950, lembrando muito o estilo samba-canção. Algo que a juventude daquela época não queria ouvir. Os jovens de então já estavam envolvidos pelo ritmo da bossa nova.

Como nos Estados Unidos o rock dominava as paradas de sucesso, Roberto Carlos viria a dar um giro de 180 graus em sua carreira, gravando em 1963 o disco Splish Splash, recheado de hits de temática rock.

Mas foi com É proibido fumar, lançado em setembro de 1964, que Roberto Carlos se firmaria como o grande nome da música jovem de então.

À essa época a Bossa Nova já estava em declínio, com seus maiores representantes morando nos Estados Unidos, graças ao sucesso do show no Carneggie Hall, em 1962.

É proibido fumar é o disco mais rock and roll da carreira de Roberto Carlos, que flerta inclusive com a surf music, estilo que tinha os Beach Boys como seu maior expoente.

Por ser um disco que representa uma ruptura e mudança de estilo na carreira do Rei Roberto, além de ser um belo retrato do que era ouvido em meados da década de 1960, É proibido fumar é um disco que você tem que ouvir antes de morrer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

INSÓLITA ARIDEZ U2. The unforgettable fire . Island, 1984. Em 1984, o mundo vivia sob a ameaça da destruição nuclear, sustentada pela disputa entre EUA e URSS. Vivíamos a Era Reagan. Nenhuma banda de rock soube traduzir, em suas músicas, esse tênue limite entre cena política e social como U2. The unforgettable fire , o quarto disco da banda irlandesa, tinha seu título surrupiado de uma exposição de pinturas dos sobreviventes de Hiroshima. Era o fogo inesquecível da bomba atômica queimando corpos e sonhos, em fins da Segunda Guerra Mundial. Mas o disco não se limitava a isso. A temática central de suas canções era o fato de que, por mais esperança que tenhamos, somos áridos e sem vida, e vivemos, de uma forma ou outra esperando pela morte. Assim é a vida. Não há o que fazer, apenas sonhar. Segundo as palavras de Bono, “o mundo se move pelos escombros de um sonho de paisagem”, e segue em sua retórica explicitando que “os muros da cidade foram todos colocados abaixo [..
UM JUAZEIRENSE CHAMADO JOÃO JOÃO GILBERTO. Chega de saudade. Odeon, 1959. Nos anos 1950, a juventude, cansada do baixo-astral presente nas músicas de Lupicínio Rodrigues e de Antônio Maria, começava a se reunir em grupos para tocar violão. Para os pais era um absurdo, pois naquela época, violão era instrumento de vagabundo. O cream de la cream era tocar acordeão. Em 1950, um certo juazeirense de nome João Gilberto, chegava à cidade maravilhosa, para fazer parte de um grupo vocal chamado Garotos da Lua . Por tabela, arrumou também um cabide na Câmara dos Deputados. Como não aparecia para cumprir o horário em nenhum dos seus empregos, acabou sendo demitido de ambos. Com isso, sem ter onde morar, perambulou pelas casas dos amigos, sem a preocupação de ajudar nas despesas ou mesmo na organização da casa. Com isso, era sempre convidado a “se mudar” para outro endereço. Por essa época, Roberto Menescal e Carlos Lyra, dois adolescentes, já haviam inaugu
O LADO ESCURO DA LUA PINK FLOYD. Dark side of the moon. 1973. Duas características que prevaleceram na maioria das bandas rock dos anos 1970: os discos conceituais e o virtuosismo. Pink Floyd detinha as duas. Com Dark side of the moon , a banda inaugurava o que se convencionou chamar de disco conceitual, onde “as faixas eram concebidas como filmes sonoros” [1] . Ou seja, o disco era uma obra completa, com começo, meio e fim, onde as faixas se encaixavam e se sucediam como frames de um filme, criando, dessa forma, uma narrativa e um ambiente próprios. Gravado no Abbey Road , estúdio mítico onde os Beatles gravaram Sgt. Peppers... ; Dark side... foi o oitavo disco do Pink Floyd, já com David Gilmour substituindo Syd Barret, o “diamante louco”. Suas músicas refletem as pressões do mundo moderno e as doenças da alma decorrentes (ambição, avareza, paranóia). Em suas letras: “Carro novo, caviar, [...] Acho que vou comprar um time de futebol” ( Money ); “Você tranca a porta